terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Glaciares na América do Sul

Esta crónica constitui uma atualização de: ‘Crónicas de glaciares - Noruega II’ (http://glacierwatch.blogspot.pt/2012/06/cronicas-de-glaciares-noruega-ii.html), de 24.06.12 neste blogue.

Em 2010 a estação de esqui de Chakaltaya – a mais alta do mundo, a mais próxima do equador e a única na Bolivia – encerrou definitivamente (apesar dos projetos do Clube Andino de, num futuro, vir a produzir neve artificial). O glaciar do Chakaltaya abastecia a represa que alimenta de água a cidade de La Paz. Em consequência,  criaram-se novas pequenas represas para captar água de outros lagos e proveniências, e realizam-se transvases entre represas.



Nas fotos, onde agora se vê pedra, há 30 anos era tudo glaciar…
 

Nas montanhas do Equador (país cruzado pela linha do equador) a realidade não é distinta. Um recente artigo de primeira página em ‘El Comercio’ (09.12.15) alertava: «Él cambio climático acelera el deshielo del Chimborazo» (marca a vermelho).
Estive nesse (neste) mês no cimo deste vulcão (fotos em baixo) – a montanha mais alta do Equador (e a mais alta do mundo se medida desde a sua base) que já teve 6.310 metros de altitude e agora já desceu para os 6.272 m devido à perda de gelo no topo – e constatei o seguinte: a lingua do glaciar que há 30 anos chegava a escassas dezenas de metros do refúgio Whymper (a 5.000 metros), hoje chega apenas aos 5.500 metros, isto é, termina muito mais acima; o cume está formado por pináculos de gelo (os ‘penitentes’) em resultado da erosão, e estes estão tão pouco compactos que se desfazem ao menor toque. Também nas ladeiras que chegam ao cume o gelo apresenta pouca profundidade e pouca consistência. Isto quer dizer que em poucos anos deixará de haver neve para cravar os crampons e aceder ao cume. Sem o gelo, o acesso torna-se muito mais difícil e perigoso devido à instabilidade do solo pedregoso e ao desprendimento e queda de rochas. Claro que este é o menor dos problemas: este é só um problema para montanhistas mas que terá reflexos na redução do turismo. Em Agosto deste ano (2015) o vulcão Cotopaxi entrou em atividade. O seu aquecimento interior fez desaparecer a quase totalidade da neve no seu exterior. O acesso à montanha (e ao Parque Natural) foi interdito e, em consequência foram anuladas uma quantidade enorme de reservas para visitar o vulcão mais emblemático do país. As agências de turismo, os guias de montanha e atividade acessórias ressentiram-se duramente.



              Relembro o vídeo do National Geographic (DVD ‘6º que podem mudar o mundo’, de  Dez. 2009) e duas duras conclusões: em 40 anos os glaciares dos Himalaias podem desaparecer; em 50 anos o desgelo da Groenlândia será irreversível!
 
Foto: próximo do cume do Chimborazo, com o Cotopaxi ao fundo a expelir fumo.